Uma janela que corre
Uma porta que se abre
Um velho que não descobre
A fechadura da chave
Um gato que mia do alto
Um cão que rosna por baixo
Uma palavra de pranto
Mão que arremessa o tacho
Paredes finas demais
A confidência que passa
O amor que solta ais
A mulher que é desgraça
Na rua estreita e escura
Mora o pecado da mente
Homens vadios sem cura
Mulheres sem a semente
Entre sombra e claridade
Viu-a a primeira vez
Na sombra viu a beldade
Despida, em plena nudez
Foi nesse momento fatal
Que o desejo despertou
O corpo alvo e sensual
Da mulher que nunca amou
Olhou-a de cima a baixo
Com vontade, com fulgor
Seios fartos como cachos
Quis beijá-los sem pudor
Renunciou a vontade
Quando a viu fazer amor
Julgava que tinha idade
Para ver aquele horror
© Augusto Brilhante Ribeiro